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FÉ - ESPERANÇA - PAZ - AMOR

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"ARTE DE SER FELIZ", SEGUNDO IGNÁCIO LARRAÑAGA

«ARTE DE SER FELIZ», SEGUNDO IGNÁCIO LARRAÑAGA

Fala o fundador das «Oficinas de Oração»

Por Lídia González e Teresa de Diego

MADRI, segunda-feira, 12 de maio de 2008 (ZENIT.org).

O Pe. Ignácio Larrañaga, sacerdote franciscano, capuchinho, fundador das Oficinas da Oração (http://www.tovpil.org), que beneficiaram mais de dez milhões de pessoas, é um dos mestres do espírito deste começo de milênio.

Autor de mais de 12 livros que foram traduzidos a mais de dez idiomas, ele teve uma enorme influência com sua pedagogia, que vincula a oração com a vida concreta, especialmente com a vida conjugal.


É autor de um dos livros de espiritualidade de mais êxito neste momento, «A arte de ser Feliz»  (Libros Libres), que já chegou à sua 7ª edição, com o qual pretende ajudar o homem moderno a sair de sua angústia e encontrar a felicidade.

Assim explica este missionário nesta entrevista, cuja obra, com reconhecimento pontifício, estendeu-se por todos os continentes.

-É possível que o homem seja realmente feliz?
-Pe. Larrañaga: Ainda que mágica, a palavra felicidade não deixa de ser uma palavra errada. Na realidade, ninguém é feliz, completamente feliz. Pode ter momentos de êxtase ou exaltação e nesses momentos parece que se chegou à plenitude da felicidade; mas, vã ilusão! São momentos efêmeros, fugazes. Pode haver faíscas de felicidade, de alegria, mas a felicidade em si? Não. O que aborta a felicidade é o sofrimento, e aqui podemos estabelecer uma lei de proporcionalidade: quanto mais sofrimento, menos felicidade; quanto menos sofrimento, mais felicidade. «A arte de ser feliz» ensina a eliminar ou diminuir qualquer sofrimento e, por este caminho, ensina não a ser feliz, mas sim a ser mais feliz. Eis aí a arte.

-Um homem que sofre doença ou dor física pode ser feliz?
-Pe. Larrañaga: Pode-se dizer que qualquer dor corporal já foi eliminada com os remédios modernos. Mas... e a doença? O problema da doença não é a perturbação biológica, mas a resistência mental que a angústia tem. A angústia é o pior espinho da doença. Um enfermo inundado de uma grande paz é um enfermo feliz.
Este livro ensina precisamente isso: arrancar da doença seu pior espinho, que é a angústia. Transformar a doença na «irmã doença» e fazer do enfermo um «enfermo feliz». Eis aí a arte.

-Hoje em dia vivemos pensando em ter êxito. Como preparar-nos para aceitar o fracasso?
-Pe. Larrañaga: É verdade. Estamos imersos em uma sociedade excessivamente competitiva na qual o mais forte, o mais audaz, o mais criativo vence na luta sem trégua. Por todas as partes se ouve o grito romano «ai dos vencidos», ou seja, «ai dos fracassados». Nesta sociedade não há lugar para os fracassados; eles são eliminados com crueldade e sem compaixão. Você me pergunta: como aceitar o fracasso sem cair? Francamente, não sei; ou melhor, acho impossível. Talvez só o espírito de fé e abandono em Deus poderia suavizar o sofrimento e ajudar a pessoa a manter-se de pé. Sem fé é inevitável cair de costas, feito pedaços.

-Há pessoas que acreditam que o homem se tortura com angústias e obsessões porque pensa demais.
-Pe. Larrañaga: Não porque pensa demais, mas porque dá voltas em sua mente, inutilmente, a fatos consumados e episódios tristes. E de tanto dar voltas em sua cabeça a acontecimentos tristes da vida, as pessoas se tornam temperamentalmente tristes. Os fatos que não têm solução ou cuja solução não está em nossas mãos, para que dar voltas na mente? Deve-se deixá-los nas mãos de Deus.

-Por que acredita que temos tanto medo de que os anos passem e a morte nos surpreenda sem ter vivido? Qual é sua resposta aos que temem a morte?
-Pe. Larrañaga: É um sentimento profundo, quase sempre inconsciente, mas real: os anos vão se passando e as pessoas estão se aproximando do ocaso da vida. Não lhes falta nada. Por ter tudo, até têm saúde física e mental, mas estão dominadas pela sensação de que lhes falta tudo. Se lhes perguntamos pela razão de seu viver, responderão que não a têm. É o vazio, a escura sensação de que a vida se vai sem que a tenham vivido. Sua existência não foi gratificante. Resposta aos que temem a morte? Não é fácil responder. É um fenômeno de grande complexidade. Esse temor, para os que não têm fé, participa do «horror vacui», horror ao vazio. Certamente é um temor irracional: deveriam pensar mil vezes na lei universal de que o que começa, acaba, lei respeitada por todos os seres da criação, exceto pelo homem.

-Da mesma forma que aprendemos a ler, escrever... temos de aprender a ser felizes? Depende de nós ou das circunstâncias que nos corresponde viver?
-Pe. Larrañaga: Na época pré-humana, os animais não tinham problemas para viver. Todos os seus problemas tinham soluções mediante mecanismos instintivos com os que resolviam, quase mecanicamente, suas necessidades elementares. Os animais não podem ser mais felizes do que são. Não têm problemas. O homem, ao contrário, desde que sai à luz, só encontra problemas: tem de começar a respirar, alimentar-se, a andar, a falar... e assim, ao longo dos anos, e até a morte , sua existência é um eterno aprender a viver e ser feliz. É verdade que há personalidades geneticamente inclinadas à tristeza, outras à alegria. Também é verdade que certas circunstâncias da vida podem favorecer ou colocar obstáculo ao viver. Mas é o próprio leitor quem tem de pôr em prática os meios de autoliberação que o livro entregará em um processo de progressiva superação do sofrimento humano, avançar paulatinamente rumo à tranqüilidade da mente, a serenidade dos nervos e a paz da alma.

-Atualmente dispomos de muitos meios materiais, avanços tecnológicos... mas as pessoas parecem mais individualistas, nervosas, distraídas, ou seja, menos felizes. Teremos de fugir para uma ilha deserta para ser felizes?
-Pe. Larrañaga: Efetivamente, a sociedade moderna é assassina, digamos assim, porque acaba por desintegrar o mais sagrado do homem, que é a unidade interior e a estabilidade emocional. E por aí sobrevém a dispersão, o estresse, e podemos aproximar-nos perigosamente da depressão, e tudo isso em meio à sensação generalizada de desassossego. Para salvar-nos de uma sociedade tão desestabilizadora, não precisamos retirar-nos a uma ilha solitária. Mas tampouco cabe a possibilidade de viver um presente de natal. O leitor terá de submeter-se a um processo de autoliberação seguindo as pautas do livro.

-Você dá muita importância à oração; precisa dela para viver com alegria?
-Pe. Larrañaga: Penso absolutamente que o trato de amizade e a relação pessoal com Deus favorecem enormemente, quase decididamente, a liberdade interior, a ausência do medo e da alegria de viver. Também suspeito que a oração e a atitude de abandono são o único caminho da paz profunda. De qualquer forma, penso que os golpes rudes da vida nos despedaçarão inevitavelmente se Deus estiver totalmente ausente do coração.

-E se a pessoa não tem fé, pode ser igualmente feliz?
-Pe. Larrañaga: Compreendo que pode haver homens e mulheres completamente agnósticos e igualmente felizes. Mas isso por exceção. O homem, sem fé, tem de sentir um grande vazio, na última solidão do ser, naquele poço infinito que só um infinito pode preencher. Em todo caso, todas as reflexões e orientações que «A arte de ser feliz» oferece vão dirigidas aos que não têm fé ou cuja fé é frágil.

OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA