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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

A ARTE DE CONVERSAR

A arte de conversar

O título acima pode surpreender. Pois, conversar exigirá uma certa arte? Estamos conversando a toda hora, a respeito de tudo, e alguém pretenderá haver nisto arte?!
Não se confunda conversa com falatório.
Outrora, as relações sociais chegaram a atingir um alto grau de requinte, de finura, e - por que não? - também de nobreza. Aquilo que constitui um dos atributos mais próprios do ser racional, que é a interlocução inteligível entre indivíduos, adquiriu as características de uma arte, no seu sentido mais elevado.

Como é sabido, o período do Ancien Régime, na França sobretudo, mas também em várias outras nações da Europa, alcançou este alto patamar da interlocução humana, transformando‑o em arte consumada. Foi no chamado século das luzes que essa arte expandiu-se por inteiro, atingindo então seu apogeu com o aparecimento dos salões de conversa, que constituíram um dos fenômenos mais fascinantes da cultura europeia. Neles as pessoas se reuniam tão ‑só para conversar, com dia e hora marcadas.
Troca de opiniões repetitivas não é conversa
Claro está que não se contentavam com uma simples troca de ideias ou, menos ainda, com uma banal permuta de palavras ou de opiniões repetitivas, tão a gosto de alguns atualmente. Os salões de conversa exigiam de seus frequentadores, além de elevada cultura geral, uma forma de apresentação do discurso que deixava transparecer justamente todo o seu charme. Conversar era apresentar um assunto de modo elegante, atraente, inédito às vezes, além de profundamente ligado à realidade, podendo até mesmo ter sua nota de inesperado.

Não raro, lamentamo-nos em ter acabado o tempo no qual as pessoas tinham a superioridade de se reunir para conversar sobre temas elevados. Hoje em dia, malgrado a boa vontade existente, as condições concretas da vida tornam este tipo de arte quase impraticável.
Justamente, a tal propósito, tomei conhecimento de uma obra -Les Salons européens. ‑ Les beaux moments d'une culture féminine disparue- (1), que traça a história dos salões de conversa europeus, de suas pré‑-origens até seu desaparecimento no século atual, após um período de agonia.
A conversa como favorecedora da cultura.
Transcrevo, em tradução um pouco livre, trechos do capítulo final, intitulado "Último adeus a um paraíso perdido":
"A vida de salão, enquanto fenômeno cultural único, acabou no conjunto do espaço europeu.
Como encontrar, por um golpe de varinha mágica, o tempo e o local para fundar um laboratório de conversa altamente espirituosa? A tranquilidade necessária para usufruir isto encontra-se estrangulada pela rapidez da vida moderna. Manter um local, com frequentadores habituais, não corresponde mais às tendências do homem de hoje, o qual, na maior parte das vezes, atribui mais importância ao esporte e às viagens do que a dedicar-se à arte da conversa.
A conversa favorecedora da cultura, que se desenrola sem limites de tempo e sem obrigação de se chegar a um termo de entendimento, cedeu o lugar à formação da opinião pela mídia. A conversa recreativa deslocouse, cada vez mais nitidamente, rumo a um estilo pergunta e resposta.
A comunicação escrita triunfou sobre as relações por meio da conversa. As discussões culturais são levadas a cabo, na maioria das vezes, pelas redações de jornais ou das emissoras de televisão, muito mais do que nos lares.
Acrescente-se a isso a tendência à especialização, golpe mortal para o homem comum que leva aqueles que estão fartos da mídia rumo a associações literárias e a sessões de leituras, que revestem um caráter quase que de conspiração.
O mundanismo, em vez da sociabilidade, é que constitui presentemente o veículo da informação. A conversa de tônus espirituoso cede o passo ante o jargão de determinado meio.
A televisão também se apresenta, hoje em dia, como prática literária. Entretanto, tal ação permanece limitada ao entrevistador e a seus convidados; o telespectador permite passivamente que lhe sirvam a conversação até em sua própria sala de visita".
Tais observações são suficientemente cogentes e explícitas, para dispensar outros comentários. Não obstante, aproveito a ocasião para levantar uma questão. Tem-se falado, e com muito acerto, a respeito de certos malefícios causados pela TV, notadamente no campo da deformação moral.
Aqui aparece mais um dano, do qual se tem tratado insuficientemente: o lento "homicídio" da formação cultural individual, quase, diria, personalizada, pela mídia de massas. Ainda mais do que a produção de uma cultura enlatada, como tem sido apelidada por certos críticos, é a incapacidade de elaborar cultura que nos tem sido servida, quase impingida, a pretexto de atualidade.
Será que o confisco do tempo necessário à conversa pode ser considerado um benefício?
- Claro está que na conversa devemos sempre manter um trato respeitoso com nosso interlocutor, ainda que tenhamos objeções a debater com ele.
Muito acertadamente pondera neste sentido um escritor católico (2):
"O trato respeitoso deve estar presente na interlocução, inclusive, quando as pessoas discutem por divergências de opinião. Assim como se admira na esgrima beleza dos movimentos, a categoria e destreza dos contendores, assim se pode compreender essa verdadeira esgrima do espírito que é a discussão bem conduzida, na qual uma das partes opõe argumentos de peso contra a outra, e esta responde à altura. Afinal, aquele que sustenta o conceito legítimo, tem ganho de causa.
Sem dúvida, é interessante observar o confronto entre dois indivíduos com mentalidade, inteligência, feitio de alma, modos de ser diferentes, ouvir argumento contra argumento e notar o triunfo de um deles.
Faz parte da arte da conversa, assim como este outro ponto muito importante que é o compreender a psicologia daquele com quem tratamos, a fim de se conhecer sua personalidade e preparar seu espírito para aceitar o que lhe dizemos".
Pratiquemos a arte da conversa e procuremos expandi-la o mais possível. Além de uma obra de apostolado de primeira ordem, também ajudaremos a tornar nossos relacionamentos mais culturais.

(Artigo: A arte de conversar. Autor: Gaudium Press - 2010/11/16 - http://www.gaudiumpress.org/ )

APRENDENDO COM FREI IGNÁCIO, FUNDADOR DAS OFICINAS DE ORAÇÃO E VIDA

AMAR É DIALOGAR 

O diálogo não é um debate de ideias, em que se combate com o fogo cruzado de critérios, atrás dos quais ocultam-se e se defendem as atitudes e interesses pessoais.
Diálogo não é polêmica, nem controvérsia, nem confrontação dialética de concepções ou mentalidades diferentes. Também não se trata de vários monólogos entrecortados pelo jogo das luzes verdes e vermelhas, como acontece com os semáforos da rua.

Trata-se de buscar a verdade entre duas pessoas, ou em um grupo.
Todo diálogo se processa sobre diferenças. É preciso que você seja você mesmo, e eu seja eu mesmo, cada um com a total identidade consigo mesmo. O diálogo exige, em primeiro lugar, uma grande sinceridade. 
Sempre que se busca a verdade ou se quer superar um conflito interpessoal por meio do diálogo, a primeira e elementar atitude é a humildade.
Precisamos de humildade para esquecer velhas histórias, desavenças passadas, o que aconteceu em nosso diálogo anterior. Precisamos da atitude generosa de perdoar. São as situações emocionais que bloqueiam a comunicação entre os irmãos. As distâncias dos corações se cristalizam em distâncias das mentes. Nesses casos, as pessoas se inibem e se refugiam nas regiões mais longínquas de si mesmas.
É preciso aceitar o outro como é, sem preconceitos, sem apriorismos. Tenho que pensar que ele tem tanto direito quanto eu de ser ele mesmo, com suas peculiaridade e deficiências. Na hora de escutá-lo, tenho que esquecer os preconceitos contra ele, olhá-lo com simpatia e compreender a globalidade de sua personalidade, sua história passada e sua situação presente. 
A comunidade deve crer e amar o diálogo porque ele
solta todos os nós,
dissipa todas as suspeitas,
abre todas as portas,
soluciona todos os conflitos, 
amadurece a pessoa e a comunidade,
é o vínculo da unidade e da paz,
é a alma e a "mãe" da Fraternidade.
("Suba Comigo" - Frei Ignácio Larrañaga - Ed. Paulinas)